2007-01-12

O Livro que subverteu a Moral


     Os ultimos posts tem-se localizado num espaço temporal situado entre 1945 e 1960 e focam os principais intervenientes da revolução Bebop , movimento musical imperscindivel não só ao desenvolvimento do jazz como á sua compreensão . Durante este periodo de 15 anos , a evolução do jazz foi enorme , nenhuma outra musica teve até hoje um desenvolvimento tão rápido , nem nenhuma outra ousou por em causa tantos valores .
     Não era própriamente minha intensão aprofundar a revolução Bebop , não aconteceu intensionalmente , foi um pouco fruto do acaso e da curiosidade . Começou com a "aquisição" do livro Jazz Moderno , que já mencionei , e que me obrigou a elastificar um pouco os meus valores morais para o conseguir .
      O dono , musico ciente da propriedade privada , com a infeliz concepção que nunca devolvo o que me emprestam , era um obstaculo dificil entre mim e livro , que além de raro é antigo (decada 60), obviamente nunca mo emprestaria de livre vontade . Dado o nosso relacionamento que data dos 3 anos de idade , o facto que fomos colegas de carteira na 1ª e 2ª classe , aliado a todas as vivencias que experimentamos juntos , colocavam-no numa posição dificil para me dizer que não , por muito que lhe custasse .


      Usar essa fraqueza , era a unica arma ao meu dispor para conseguir o dito cujo , não era bonito faze-lo , mas como se diz na minha terra , o que tem que ser tem muita força ... Claro que ponderei a hipotese de simplesmente o surrupiar , mas depois do interesse demonstrado , uma verificação da biblioteca era mais que previsivel , pelo que o pedi emprestado , mesmo sabendo que o faria contrariado . Se estão a pensar que foi baixo , não é o pior , há mais , é que depois deste relacionamento intimo que temos vivido , as hipoteses de o devolver são cada vez mais escassas . Agora que já sabem com que tipo de pessoa estão a lidar , vamos tentar extrair algo de positivo .


      Contrariamente ao habitual em livros de jazz onde tudo parece ser defenido por estilismos literarios e adjectivos imcompreensiveis , aqui podemos encontrar explicações técnicas a nivel de ritmo , harmonia e melodia que permitem compreender as diferenças entre estilos e as suas concepções musicais . Embora seja dificil por vezes transmiti-las de forma clara e compreensivel , tentei faze-lo dentro das minhas limitações , espero ter contribuido para a vossa melhor compreensão do fenomeno que é o jazz e ter dado a conhecer musicos de quem hoje pouco se fala apesar da importancia que tiveram no desenvolvimento do jazz .

      O enorme numero de intervenientes obrigou a cortes (já pareço o Sócrates) , dois dos mais sacrificados foram precisamente Dizzy Gillespie e Charlie Parker , as principais figuras do bebop , mas também as mais conhecidas e sobre quem é facil encontrar informação , optei por figuras menos conhecidas , outras como Fats Navarro , Milt Jackson , Max Roach , Kenny Clarke, fazem parte dum lote que por direito deveriam constar e mereciam certamente um post , que não vão ter .
Sobretudo o baterista Kenny Clarke e outros como Max Roach ou Roy Haynes mereciam um espaço de destaque pela importancia que tiveram no desenvolvimento das formas ritmicas do Bebop , a polirritmia , a forma como ignoraram as barras do compasso e subdividiram o tempo por pontuações sobre a caixa , os toms e o tambor , o que exigia uma independencia total dos quatro membros e alterou radicalmente a forma de encaixe do instrumento na musica . Também não mencionamos nenhum contrabaixista , mas isso foi deliberado e motivado pelas dificuldades do instrumento e suas especificidades que estão muito para além das capacidades dum simples amador de jazz .
      Com os post seguintes , dedicados a Bud Powell , JJ johnson e John Coltrane fechar-se-á este ciclo sobre o Bebop , mas não só , pois que também mencionamos musicos pos-bebop , Ornette Coleman e Eric Dolphy , plenamente justificado pela propria linha sequencial que desenham entre o jazz moderno e o jazz de vanguarda .



      Quero só concluir que o facto de se terem aproveitado dos conhecimentos adquiridos atraves do livro vos torna de alguma forma meus cumplices , afinal acabaram por partilhar do saque , não fisicamente , mas pior ainda , comungaram do saque da essencia da alma do livro .