2006-06-24

Festas Sanjoaninas

Ontem festejou-se o S João , uma festa popular pagã dissimulada num nome do universo católico , que comemora o solsticio do verão . Esta tradição que se perde nas noites do tempo tem uma simbologia muito forte e muito enraizada entre os tripeiros , ( talvez alguns ignorem porque nos chamam tripeiros , tudo aconteceu quando o Porto generosamente dispensou todas as suas reservas de carne guardando apenas as tripas para a sua propria alimentação , é verdade o pessoal andou todo a comer unicamente tripas durante uns tempitos , e o habito ficou , as tripas são hoje em dia um prato «nacional» do Porto , e nós que deviamos ser chamados os generosos somos os Tripeiros ... ) , que escolheram a noite e nao o dia para o festejo ... Porquê a noite ? Porque nao poderia ser doutra forma ou toda a teologia da festa estaria compremetida . Todos os elementos que compoem esta festa são dionisicos , o vinho , a comida , a musica , os cheiros , o toque , a festa é um convite a irmos mais longe , a atrevermo-nos no desconhecido , no escuro , a apostar mais alto no risco , a saltar a fogueira ... Fogueiras que curiosamente nao vi , mais uma tradição que se vai perdendo , as fogueiras de S João e o mitico salto da fogueira , no qual desafiamos não só o proprio fogo como todas as morais preconceituosas que nos impedem de viver a vida como gostariamos , num eterno S João ...
O alargamento da festa a outra partes da cidade que não as tradicionais Fontainhas e cercanias já não obriga a que os grupos tenham de forçosamente circular de maos dadas , o contacto é menor , os apalpoes desapareceram e com eles as tradicionais desordens que tanto animavam as noites . Tristemente desapareceram tambem os alhos porros e os ramos de cidreira que gentilmente se esfregavam na cara das meninas , substituidos por aquele martelos plasticos parvos que fazem um barulho ridiculo , felizmente ficaram os manjericos que lançam aquele perfume inebriante que em conjunção como o das sardinhas assadas caracterizam a festa sanjoanina .
A festa tem vindo a perder a sua alma , tem cada vez mais dificuldades em adaptar-se ás novas realidades sem perder a sua essencia , resistiu á introdução do plastico , resistirá á desertificação da cidade ?
Terão ainda sentido festas populares , apologistas da democracia e da nao diferenciação entre classes , nas sociedades de ditadura económica em que vivemos ?