20 de Movembro 1971 , 22:00
Cascais , 20 de Novembro de 1971 , 22 horas , Miles Davis sobe ao palco do Pavilhão do Dramático inaugurando aquele que viria a tornar-se um dos maiores e mais importantes festivais do genero , o mitico Festival de Jazz de Cascais .
Durante os proximos 9 anos (1971-1980) desfilariam aqui as grandes lendas do jazz , Jimmy Smith, Cannonball Adderley , Dave Brubeck , B.B. King , Duke Ellington , Sarah Vaughan , McCoy Tyner , Charles Mingus , Sonny Rollins , Gil Evans , Muddy Waters , Art Blakey & The Jazz Messengers , Betty Carter , Freddie Hubbard , Buddy Guy , Charlie Haden , Dexter Gordon e Jean Luc Ponty entre muitos outros , elevando este festival a um nivel só superado pelo de Newport , cujo mentor George Wein ajudou os inexperientes organizadores a establecer uma formula de sucesso não muito diferente da filosofia do ainda hoje maior e mais importante festival de jazz , o prestigiado Festival de Jazz de Newport .
Concebido e montado por dois homens , um ligado ao jazz , Luis Villas-Boas , outro ao fado , João Braga , foi um projecto arrojado e ambicioso num pais sem raizes jazzisticas dominado pela censura e pouco aberto a inovações susceptiveis de aproveitamento politico , acreditem deu-lhes muitas dores de cabeça , começando com a exigencia de Miles em abrir o festival , obrigando á alteração da ordem prevista , provocando a ira de Ornette Coleman a quem estaria previsto essa honra , continuando com a detençao de Charlie Haden pela PIDE apos ter dedicado o tema "Song For Che" aos movimentos de libertação de Angola e Moçambique e acabando nas sucessivas tentativas da proibição da continuidade do evento .
O jazz falado em portugues foi representado pelo quarteto The Bridge que incluia Rão Kyao no sax , o pianista Kevin Hoidale , Jean Sarbib (contrabaixo) e Adrien Ransy (bateria) . Estes precederam a actuação de Dexter Gordon e viram a vida complicada com a guerra Miles-Colleman , Colleman exigiu tocar apos Miles recusando-se a fechar a noite . A aparelhagem já pronta foi retirada e montada mais tarde , não permitiu a obtenção dum som limpido afectando o sax de Rao Kyao que foi quase sempre pouco perceptivel .
Para os espectadores deve ter sido frustante , a musica que ouviram provavelmente estaria a milhas do esperado , Miles abandonara defenitivamente o jazz classico e na bagagem trazia obras como Bitches Brew , Black Beauty, Live at the Fillmore East e Live Evil , algo completamente diferente do que alguma vez haviam ouvido epara o qual não poderiam estar de forma alguma preparados .
Se não estavam preparados para a extravagancia musical de Miles devem ter dito mal da vida quando Ornette Coleman subiu ao palco , fiel ás suas convições apresentou um free-jazz que lhes deve ter soado arrepainte e fez muitas pessoas abandonar a sala .
Dexter Gordon que se fez acompanhar por musicos nacionais (Marcos Resende no piano , Jean Sarbib (contrabaixo) e Manuel Jorge Veloso (bateria ) terá nesse dia sido o unico a tocar o jazz que todos esperavam .
Mas havia mais , muito mais , e os preveligiados que assistiram a este primeiro festival puderam ouvir no segundo dia o sexteto Giants of
Jazz , uma banda de sonho , um autentico «Dream-Team» que juntou Dizzy Gillespie , Thelonious Monk , Art Blackey , Sonny Sitt , Kay Winding e Al McKibbon .
Curiosamente uma das exigencias de Dizzy foi ver Eusébio jogar , acompanhado por JB e VB assistiu ao Portugal-Bélgica que se realizou no segundo dia do festival .
Apesar de terem sido feitos registos dos espectaculos , continuamos a aguardar uma edição , se possivel completa , do Cascais Jazz . Tem havido tentativas timidas nesse sentido , infrutiferas até agora , imcompreensivel que se tenha montado um dos maiores festivais de jazz de sempre e 35 anos depois não haja um unico disco dessas obras unicas e preciosas dos melhores musicos de jazz do mundo .
L I N K Este artigo publicado na revista BLITZ conta um pouco da história desses momentos grandes do maior evento de jazz realizado alguma vez em Portugal , também um dos maiores da propria história do jazz e que teve a audácia e o mérito de nunca se satisfazer com menos que o melhor .
Os ultimos anos da decada 60 são um inequivoco virar de pagina na obra de Miles Davis , a aproximação a ritmos modernos como o funky e melodias mais harmonicas aliada á preferencia por instrumentos eletronicos evidencia de obra para obra um divorcio eminente com o jazz clássico .
Estas tendencias começam a ser incontornaveis com a chegada das obras « Filles of Kilimanjaro » em 1968 e « In a Silent Way » no ano seguinte e atingem o climax com a famosa obra « Bitches Brew » gravada ainda no mesmo ano e considerada pela critica como a mãe do jazz-fusion .
E é precisamente neste momento que Miles nos visita em Cascais . Para os mais incautos deve ter sido um susto e um choque , a verdade é aquele Miles que durante mais de 20 anos nos habituara ás melodias introspectivas suaves do Cool Jazz não voltaria mais , a diferença do proprio som do trompete alterado pelo agora indespensavel abafador deixava claro que Miles pretendia um corte radical com o passado .
A critica foi madrasta com esta fase mais vanguardista de Miles , cedendo á pressão ou não , as obras seguintes suavizaram o tom , acentuaram o ritmo e melodias propicias á facil retenção são regra geral das proximas obras que terão um cunho acentuadamente funky .
A verdade é que Miles virasse por onde virasse conseguiu ser sempre genial e mágico , o futuro comprová-lo-ia e depois de Cascais começaria uma nova fase ondeassinou obras maravilhosas como Tutu , Amandla , Music From Siesta ou Bags Groove .
Estes dois temas do album Filles de Kilimanjaro Petits Machins e Frelon Brun são elucidativos do rumo que seguia a musica de Miles .
O album in a Silent Way é composto apenas por dois temas , publicamos um deles Shhh - Peaceful
.
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