As Vozes do Bebop
Um comentário do Paulo fez-me acordar para o facto de que em toda esta viagem ao mundo Bebop não foram referidos quaisquer musicos que usassem a voz como instrumento . Talvez não seja assim tão estranho se pensarmos nas especifidades desta música de recortes rapidos , variações bruscas , tempos descompassados , não será própriamente a base ideal a uma vocalização , pelo menos para os padrões da época . As cantoras de jazz famosas estavam comodamente instaladas, demasiado comodamente para se aventurarem num estilo novo, complexo , pouco apropriado a vocalizações e de duvidosos resultados . Os vocalistas por seu lado representavam o outro lado da barricada , e nunca foram suficientemente ousados para mudar de lado .
Houve contudo uma diva do bebop e um homem que usou também a voz , tiveram uma vivência proxima ,cantando juntos na banda de Earl Hines . BE foi talvez o primeiro vocalista do bebop , durante um curto periodo de tempo é certo , contudo o necessário para influenciar o estilo da senhora que iria dominar o bebop , Sarah Vaughan .
Não foi facil , mas encontrei uma musica do Billy com a Sara , infelizmente não data dos principios na orquestra de Earl Hines , é muito posterior , mas foi o que se conseguiu arranjar
Passing Strangers
Billy Ektsine , que além de trompetista e trombonista , vir-se-ia a revelar um fenomenal chefe de orquestra , por onde passaram sempre os melhores musicos da época , começou como vocalista na orquestra de Earl Hines . Dizia-se tinha uma voz cavernosa que usava numa sucessao de brados fundos e tremidos , muitas vezes saudadados em jorros metalicos da secção de trompetes . Quando por volta de 1950 alcança o sucesso torna-se um cantor sedutor e sereno . Infelizmente são raros registos dessa época em que Mr B , mãos nos bolsos e casaco tão puxado para tras que lhe caia dos ombros , acompanhava Sara .
O tema Until I Met You , Sara Vaughan com a orquestra de Cunt Basie .
Dois clássico The Shadow Of Your Smile e Smoke Gets In Your Eyes
Em Outubro de 1942 , com 18 anos , Sara Vaughan ganha o concurso de amadores no Appolo Theater no Harlem . Curiosamente a vedeta da noite era Ella Fitzgerald que ganhara o mesmo premio 8 anos antes .O destino juntava duas das maiores cantoras de jazz , mas Ella Fitzgerald não sabia , não podia saber que ao seu lado estava uma jovem cuja fama emsombraria o seu proprio estatuto .
Billy Ektesine , Mr B , presente no show , impressionado pela voz e capacidades de SV, recomenda-a calorosamente ao seu chefe de orquestra Earl Hines .
É contratada como vocalista e 2ª pianista , donde concluimos que Sara seria também uma excelente pianista .
No verão de 44 junta-se á recem-formada banda de Billy Ektsine . Em 46 actua nos cabares da 52ª Avenida , Dois anos mais tardes os cachets seriam ja insuportaveis para estes clubes . Será a época das grandes digressões e recitais .
Musica e pianista completa , Vaughan sentiu mais fortemente que as suas rivais , o encanto da improvisação , e os seus meios tecnicos dava-lhe liberdades que as outras podiam apenas sonhar .
Sara estudara piano e canto dos 8 aos 15 anos e depois orgão durante dois anos , seguindo o sonho da mãe que pretendia ve-la um dia como pianista de concerto no Carnigie Hall , e SV viria de facto a actuar aí , não como pianista , mas como vocalista de jazz .
Mais 2 temas de Sara Vaughan Ain't Misbehavin'
e When Your Lover Has Gone
Alain Gerber defeniria assim a arte de SV :
- A diferença para as suas rivais é que ela é como um jazzman no beber harmonico , Sarah transforma o tema declarando-se contra ele ao nivel dos acordes e nao apenas contra a melodia , é a cantora que despreza mais radicalmente as palavras , corta-as , esmaga-as , isola-as arbitariamente no seu contexto e substitui-as por outras ou esquece-as voluntariamente . As palavras carregadas de sentido não são mais consideradas senão como formas vazias , como uma matéria muda .
Um Tema pra minha amiguita .
Foi contudo necessario esperar alguns anos até que SV amadurecesse e explore simultaneamente a fundo e com ousadia , a extraordinaria tecnica harmonica e a profunda musicalidade , para que defina a essencia do seu estilo como uma relação sinusoidal com o libreto , o metro e o acorde .
Veio então a época dos impulsos vertiginosos , dos deslocamentos voluptuosos , das fracas quedas no grave , das minimas esmigalhadas nas seminimas , dos saltos de oitava depois dos quais a vozvem tomar o seu apoio e instalar-se com ousadia numa nota estranha á melodia , insolentes acrobacias que tantas cantoras viriam a procuara imitar .
Mais que as palavras este tema dirá do estilo inconfundivel de Sarah Vaughan
Autumn Leaves
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