2006-01-19

Maleficios da Boémia

O Quim tinha tido uma noite de arromba com os amigos . Grande cardinola e em casa uns exercicios extras para apagar remeniscencias do clube de strip , deixaram-no de rastos . E lá estava ele a caminho do emprego , sentado no metro , com tanto sono que mal conseguia manter os olhos abertos . Quando os entreabre , á sua frente um tipo todo enfardilhado , ar de catedratico , olha-o com ar sério e diz : O sono é o preludio da morte , William Shakespeare . O Quim nem ligou , volta a fecar os olhos . Quando os reabre , o tipo está a fitá-lo e volta a dizer , o sono é o preludio da morte , William Shakespeare . Já irritado volta a fechar os olhos , passados minutos reabre-os ,o tipo olhao-o e diz-lhe : O sono é o preludio da morte , William Sheskperare . O Quim perde a paciencia e responde-lhe : Vá pra grande puta que o pariu , Manuel Maria Barbosa Du Bocage .

Diz-se , que mais vale cair em graça que ser engraçado , o que se aplica a Bocage , entre nós será eternamente famoso , não pelo seu trabalho literário , mas pelo mito gerado á volta da sua vida de boémia . Nascido em 15 de Setembro de 1765 , na terra do Talk-Talk , viveu até aos 40 anos . Aos 14 anos fugiu de casa , alistou-se na armada ´, segiu a carreira militar , e mais tarde dedicou a sua vida á poesia , ao amor e á boémia . Morreu arrependido ...
Sendo com Camões e Pessoa , o trio dos mais consagrados poetas nacionais, no coração do povo portugues ocupa certamente o 1º lugar ...


Pessoalmente , Bocage impressiona-me pela negativa , é me dificil conseguir compreender que renegasse toda a sua filosofia de vida , e que tudo aquilo em que acreditava ruisse perante o medo da morte . Bocage trai a sua própria grandeza ao renegar tudo o que acreditava quando pressente que vai morrer ? Nao nos podemos esquecer que estamos no Sec XVIII , a influencia da religiao catolica na sociedade era enorme , e mesmo agora que já nao tinha a inquisição , reinava pelo medo do castigo do juizo final , devia ser algo bastante enraizado no inconsciente colectivo , algo que venceu o proprio sentido que Bocage tinha atribuido á vida .

Decidi deixar-vos 2 poemas de Bocage , de duas epocas diferentes . O 1º corresponde á imagem que temos de Bocage , boémio debochado , atrevido , descuidado nas palavras . Se bem que este tipo de poesia seja uma parte menor na obra de Bocage , devido talvez ao seu indole popular , transformou-se rápidamente em imagem de marca , o que aliada á vida de boemia , criou o mito que se foi alimentando da imaginação do povo ao longo dos anos
O 2º poema , da fase final da sua vida , onde é explicito todo o arrependimento de Bocage .

SONETO DE TODAS AS PUTAS

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

NOTA * Este soneto suscitou dúvidas sobre a autoria (que alguns
atribuem a João Vicente Pimentel Maldonado)

Incultas produções da mocidade

Exponho a vossos olhos, ó leitores ;
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade;
Que elas buscam piedade, e não louvores;
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores ;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores ;
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.
Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados :
Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura ;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados :
Não vos inspire, ó versos, cobardia

A Casa onde nasceu Bocage


A quem possa interessar , deixo um link para a biografia de Bocage
Biografia de Bocage

5 Comentários:

Às 22:13 , Blogger Titá disse...

Estou impressionada! O teu blog revela uma variedade cultural impressionante. Entre a música e a poesia, lá nos vais ensinando de tudo.
Manuel Maria Barbosa du Bocage????...Não me ocorreria! Respeito e sorrio quando leio algum dos seus sonetos, mas tal como tu, também não me impressiona.
Aliás, até acho injusto quando o colocam ao lado de Pessoa ou de Camões. Bocage não é, a meu ver um poeta, mas um sonetista, ao redor do qual, se criaram lendas brejeiras que o tornam por isso mais popular.

 
Às 01:46 , Blogger Suga_Mentes disse...

Estou de acordo Titinha , também nao vejo comparação com Pessoa ou Camoes , nem percebo como varia vezes aparece referenciado como um dos
dois maiores poetas portugueses , teve de certeza um bom consultor de imagem ...

 
Às 01:58 , Blogger Suga_Mentes disse...

Quanto ao menino vou repetir o que já lhe disse , as palavras feias podem e devem ser usadas com sentido , nunca no sentido de disfarçar ou enconder medriocridade ou subsitiur aquilo que não existe , a falta de jeitinho ....
Como até nem é o teu caso , continuo a não compreender que precises disso . Se decides optar pela vulgaridade , tás a perder tempo , mas isso tas tu farto de ouvir a tua namorada dizer , nao é ?

 
Às 09:41 , Blogger Miguel Baganha disse...

"Diz-se,que mais vale cair em graça que ser engraçado..."

("Bocage"...certamente um parente muito próximo do "Fernando Rocha"...)

-Sendo Portugal um país possuídor de tamanha riqueza a nível literário e se escolhe a biografia de Bocage para produzir uma série televisiva tão dispendiosa numa altura em que a crise está tão confortavelmente instalada,é caso para perguntar:"Até quando vai durar a palhaçada,Portugueses?"

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«Estas figuras todas que aparecem,
Bravos em vista e feros nos aspeitos,
Mais bravos e mais feros se conhecem,
Pela fama, nas obras e nos feitos.
Antigos são, mas inda resplandecem
Co nome, entre os engenhos mais perfeitos.
Este que vês, é Luso, donde a Fama
O nosso Reino "Lusitânia" chama.

Luís Vaz de Camões

 
Às 11:56 , Anonymous Anónimo disse...

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»

 

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